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terça-feira, 6 de julho de 2010

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Cadê você, que esfumaçou-se...
Que fugiu sem fim, vencendo assim a covardia.
Cadê você, que de tanto em mim, já não me tenho.

Cadê você, que de gente de carne, é hoje marmórea saudade,
Cadê você, que mostrou-me os astros, me fez colorir as letras da semana (cada qual com a sua cor exata...),
Que se apoderou de mim, tal qual mão ruidosa apoderando-se de armas pesadas

Cadê você, que destituiu poesias, desconstruindo ilusões perenes.
(Você levou os cubos de vidro sobre os quais eu caminhava nas minhas luas e chuvas particulares,) _ [ Você é um sacana puto!!!!!!!!!!!!!!!!!! ]
Você, que não tem coração alado, me jogou no fosso mais fundo, de um jeito profundo e pardo, deitada em teu nada encanado,

Refugiei-me para sempre, na alma fria, vazia e nua da melancolia perdida e vadia.

(Marcelina)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

"Sei que fazer o iconexo aclara as loucuras. Sou formado em desencontros. A sensatez me absurda". (Manoel de Barros)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Socorro

Se eu pudesse estar em dois mundos
Se eu pudesse ser duas pessoas
Se eu pudesse falar mandarim...

Eu existo em dois mundos
Eu sou tantas caras, fétidas máscaras
Eu entendo tua fala

Não me jogue fora, me tenha
Me dê o presente preso em acústicos laços vermelhos
Escute o estranho coração, que não sabe envelhecer o que trucida a alma e queima o estômago.
Me ensine a engrossar mingau de aveia...

(Marcelina)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Morte

Do certo incerto modo,
Amar, mata.
Fez-se claro...
Amar não é vida, é morte
A morte cristaliza as coisas
E amor é cristal em cortes.


Cristalizar- se é estatuar a vida
Não respirar... Não falar... Não andar...
Quem ama é estátua,
Estátua sofre...
Em branca pele não respira,
Imóvel, não enxerga o amor que passa em cofres


Eu sou estátua
Todas as indiferenças foram cravadas em meus braços,
(Sou estátua, rígida, pesada, meu amor passa por mim mas nem existo)
Sou lixo, sou nada,
Sou o frio em pedaços.

(Marcelina)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Texto Quadrado

Hoje nada mais serve. Nem confiança, nem vento, ninguém, nada... Eu dei os nós. Me amarrei nos espelhos e fiquei a perseguir. Enxerguei todas as esperas e elas me serviram de guia em meus tortuosos caminhos. Escutei ao longe, alguém me chamando, aquele era o sinal correto para o caminho. O caminho estava encoberto pela fumaça, mas o cheiro do alecrim seco queimando, me sequestrou de mim mesma. Era apenas um aquário lacrado, coberto pelo perfume real do Olimpo. Agora já é tarde para voltar. Tarde para olhar para trás. Tarde para todos que seguiram e se perderam no caminho normal. Sabemos o caminho de volta. Aprendemos o peso do passo do caminho certo. Ficamos sós. Apenas serão salvas, as pegadas de quem seguiu para o lugar mais longe. Para o nosso caminho. A cumplicidade se fez e nos derrotou. Agora você já sabe os meus segredos. Eu me rendo. Ainda posso voar. Minhas asas quebradas me quedam e me levam. Me vão.
(Marcelina)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Teoria


(Para Jucilena Travassos)

Aos 40 a mulher eclode.
Separando-se em inúmeros bons pedaços.
São pequenas carnes pulantes, que invadem ruas, cidades, noites, países, mundos

Devoram meninos bonitos e tomam café com chantilly as 3 da tarde, enquanto os velhos morrem...

Naturalmente abandonam suas casas, seus maridos, seus filhos, seus cachorros, suas plantas...
Saem volitando sem rumo pelas ruas amarelas.

Tornam-se gigantes transparentes
Muito maiores que seus vazios repletos de cores

São lindas, firmes, serenamente perversas
Tem o olhar fixo, abrangente e dissimulado de todas as idades perdidas nas sombras

São naturalmente perigosas,
queimam ao toque,
são as meninas tristes do sol
que nuas invadem o mundo com as mãos postas.

Só elas sabem entender no escuro...
(Marcelina)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cadáver da Amizade

(Marcelina & Santiago Jan/10 Cachaçaria)



Dor de aço que arde se só está.

Escrava de outra boca a minha palavra

Amigo, és raiz que egoisticamente, se fixa em mim

quando as mãos oferecem sobras como rosas

um copo bobo de quebra, e só você fica

se a briga é brava, vale o fio de barba.

nada resta em mim, se daqui você voar

dois corpos como água do mesmo copo

Amizade de poeta, e tal qual mata escura

como na mata, árvore à árvore se abraça

não tem hora e nem dia. Nossa amizade é.

As retinas e as almas livres de panos e cortinas

Não há sede do capitalismo que a compre. Livre é.

Conceito de amor que nenhum poeta compôs

Não hei de me perder de você, já que sempre te haverá.

Os erros são todos meus. Certo é te saber.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Presença

Presença sem gente, imprecisa, vaga, sujeita
Insujeita por si se basta.
Vasculhante, permeada em brumas de sol cristal,
que morre, que escorre...


Alma Puta de poeta barato, que vaga em mesas, noites, bares,
esperando os perfeitos goles, que colorem letras.


Presença tu és.
No maior céu, tu estás.

Nas noites de lua branca,
ensimesmada nos menores pinos,
fixa e plácida tu estás, a vagar brancamente, regendo os normais de boca vazia.


(Marcelina)

domingo, 23 de maio de 2010

Inquietudes

Inquietudes

(Para Santiago)

Há nas almas dos lugares
Algo de plena inquietude,
tal qual céus em tardes de fogo

Há no peito do mundo a calmaria insana que se arremete ao plano perfeito das
nevascas noturnas.
Tudo é tempo e tudo se mistura... te implodindo em todos os dias sem rotas.

Sou gelo. Sou fogo. Sou o denso e o veludo.
Sou o dentro e o avesso.


Mai/10

(Marcelina)
Homenino

Corre a vida
rola o tempo
Ele ainda é menino

Pasta a vaca,
apressa o rio,
(Escoa o resto rosa do sol para o nunca mais,)
Ele ainda é um menino.

A noite encobre o tempo
O pai e a mãe na porta.
Ele, já é homenzinho...

O mundo cruel
a dor no peito, o corpo que arde e estremece,
os carros, os aviões, os prédios, as luas,
ele, é um homem

Caminhos coloridos em suaves mesas de bares,
mata duas onças todas as semanas,
é dono do tempo e ainda percorre os campos,
ele, é Homenino.

22/5/2010

(Marcelina)

domingo, 11 de abril de 2010

Presença


É estranho teu vácuo. Tua ex-presença.
Me tornei: passados.
Ausência bruta que arrefece o eu de vidro
Escondido por trás dos livros cifrados.

Ausência do olhar engolidor, gerador, avassalador
Olhar que arrumou o caos do mundo por instantes.
Olhar sem timbre, sem cor, olhar marrom, guardado em quadradas caixas de terra
Olhar que me deixava nua, a vagar pela estreita rua

O caminho de cacos de vidro, me pede nova canção ou poesia doída, sangrada
Mas os poemas das luas e prados, engasgam e não nascem mais...

Nos tornamos: presente.

Tento cuspir tua presença, em tempos, que tua ausência ainda me rasgará os músculos, tal qual um estilete brilhante, fino, frio e cego



(Marcelina)

sábado, 3 de abril de 2010

Vai sob esta terra, tua mãe,
às vastas moradas, aos bons favores!
doce como lã a quem soube dar,
que ela te proteja do Nada!
Forma arcos sobre ele e não o destruas;
recebe-o, Terra, acolhe-o!
Cobre-o com uma barra do teu vestido
como uma mãe protege o seu filho,

(Rig Veda, Grhyasutra, 4 , 1)

domingo, 21 de março de 2010

Duas Chuvas


A evasão implícita dos ângulos firmes, me prendem em duas jaulas sem asas:
Uma : corpo.
Outra: Chuva


O corpo cai rijo, pesado em solo seco. Explodindo em sangue, músculos, vísceras, ossos vermelhos.

A chuva, suave se espalha e se esvai em perfeitos caminhos de vida certa e plena... Cavando espaços, devorando esferas. Engravidando gentes de água...
A chuva tácita, mole, fria, sedutora, barulhenta, enxerga o rumor do mundo sem doer.


O corpo já apodrecido pelo tempo, marca a terra dura e estéril de tristeza, peso e dor.

sou tempestade trovoante em pensamentos...
Não sou mais corpo, tornei-me água, me abluí,
chovi ...


(Marcelina)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Capris

Seres bons, se maus, terríveis são.
Seres não alados, chifrados em si, são sãos.
Seres malvados, de corações grandes e alados,
Seres indomáveis, sem rumo, seres do mundo.

Capris, são ilhas inteligentes em terras firmes e inexistentes.
São hominídeos grandes, viventes em mundos ausentes.

Marcelina Oliveira

segunda-feira, 1 de março de 2010

Amor,


Um eu de mim, existe sem você
outro , te ama com paradas.
Um eu de mim, não te sabes quem és,
outro, te quer sempre, inteiro ... livre.
Eu sem você ando
e com você navego, num mar menos meu do que nosso
Eu em ti, por você em mim,
arrumados,
vamos.


(Marcelina)




Ai de mim, pobre crucifixo anônimo;
Ai de mim criatura que busca ser
o avesso, a água.

E pelo vento implícito, voltar ao pó difícil e lúcido,
de ser gente...


(Marcelina)
MULHERES CLAUDINAS
(Cláudia-MT, Outubro de 2009)




Ai de ti, Cláudia, sem tuas estátuas meninas,
Sem tuas figuras de mulheres perdidas.

Tão altas delgadas vivas monumentais...
Tão lindas, postas e plantadas.
Fulguradas, reluzentes, se, contra teus corpos, o sol se põe.

Fantasma de cristal, se a lua cheia brota de um de teus seios, encantando Iaras.

Espectros lindos...
Mulheres verdes...

Seus corpos esculpidamente retos se retorcem em cabelos cheios e redondos.

E seus rostos...
Seus rostos são invejáveis figuras de todas as mulheres, de todos os tempos.

Deixa seus esvoaçados cabelos verdes se ouriçarem contra o vento, eles sempre serão teus...

Tua longa vida deixa, a tua volta, sementes duras e ternas, iguais as minhas.
Tuas vidas, bela Rainha, são bolas marrons de um peso só.

Feliz de mim, se em minha velhice, meu semblante opaco e cinza, possuir teu pleno vigor senil,
montado em teu cheiro de mata fresca, que tudo vê, tudo engole e tudo cala.

Que se cale em pânico, mata inteira,
para se ouvir falar: a Majestade Castanheira.


(Marcelina)
Lua



Lua de caixa branca
Lua livre, voada, branca
Em mim desde criança.

Caleidoscópio dos que lá me esperam.

Esta lua é minha desde o tempo escuro e pequeno,
Lua que de tão grande me ilumina de descomplicada poesia.

É lunática,
É lua e Letra.
É elo de linguagem branca.
Lua Crescente


Lua prata que de tão grande
nem mais branca é.
Perdeu a cor de medo, pensando em que sua luz me ofusca.
Sob meu pensamento morto, pensado, cansado,
ainda não se sabe se é noite ou dia.

Esse pôr de lua estático
por si me basta, me toca, me leva, me basta, me arranca, me acampa, me envolve.
Sou toda lua. Te olho me vejo.

Lua enorme, dominada em céu cinza reluzente.
Dona.
Toda.
Teu teto é o que me basta, me toma, me bebe, me devora.

Lua mãe, Lua nova, lua eterna, lua imensa.
O meu beber um dia será tua sombra.

(Marcelina)
Mata,


mata, morta mata
mata comprida mata
mata que sara, que dança, que para a dança insana e doída


mata, mata de cabelo verde, de cheiro são, de chuva pesada
mata que me mata tarde, que me orquideia inteira ... por inteira mata
mata de verde, de verde vivo, de vento livre, vento escuro, pesado vento, que derruba, arruma, apruma mata

deita, enterra os pequenos podres

mata que me rodeia inteira, me respira, me leva, me tange, me deita de clorofila cinza arrumado sobre água parada, de um mim reduzido, inquieto e deitado

morto.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Poética

Esta poética assexuada, de mente inconstante e sã,
Que vem e vai, sem buscas
É a ode que me incomoda, me sufoca, me atropela inteira.

Poética, sou melhor só.
Poesia, sou de ninguém.
Não devo ser.

Angústia do ir e vir
Do correr e ficar
Do perder e ganhar
Da ausência necessária e fixa,
Sem mim, sem você

Sou heroína assassinada por palavras
Guerreira vencida pelas letras,
Sou tango sem par.

Será que um dia... Um dia
Ainda caminharei feliz e tácita por campos floridos?
Dê-me sua mão, meu amor utópico
Vamos...

O Tango vai começar.