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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Sala de Embarque
















Quanta vida morta existe impregnada nestas salas de espera mórbidas espalhadas por este país e pelo mundo à fora.
Um aquário enorme que abriga os que esperam. Ás vezes são chiques e sofisticadas e têm o codinome de Vips. Mas o conteúdo insípido sempre permanece nelas. Ele nunca decola. Fica lá preso como um fantasma que jamais fugirá.
Por lá vagueiam os filhos que esperam rever a saudosa mãe, os que vão resolver grandes negócios, os que vão rever a “futura” ou o “futuro”. Estas salas guardam os que aguardam ver a cidade esperada, rever a cidade natal amada, aguardam os que querem ver ou apenas serem vistos. Guardam gente importante e gente menos importante.
Gente que se olha, que se desconhece, que se entreolha, que se desconhece de novo. Gente feia, gente linda, gente rica, gente pobre, gente espirituosa, gente tétrica, gente fantástica. Gente que vale a pena e gente que nem tanto.
Crianças correndo, dormindo pelas cadeiras coloridas, crianças berrando: “_Mãaaaaêeeeeeeee onde é o banheiro? To com dor de barriiiiiiiga!”.
É gente que só vai, que não vem. Gente devagar, gente doente. Gente lenta gente apressada. Gente suave, gente teimosa. Gente alegre ou triste. Gente que vai sair de férias, e gente que está indo para o velório do pai. Gente que ri por está indo. Gente que chora por quem ficou. Gente boa, gente má. Gente que nunca vai chegar. Gente que nunca vai ter coragem de partir sozinha.
Numa sala de embarque, somos todos iguais. Somos todos observações ou observadores. Somos sem nome, sem rosto, sem formas. Não temos rótulos. Somos apenas alguém que espera... Espera... Alguém que escreve, alguém que fala ao celular, que olha feio para o filho que insiste em pular por cima da perna magra, pálida e manchada de pintas marrons da Senhorinha doente de 96 anos que está na cadeira de rodas da Tam.
Salas de embarque guardam mistérios absolutos que tantas vezes são dispersos pelos olhares. Elas guardam as nossas buscas, nossos achados. Comparo estas salas a uma dantesca sala de “achados e perdidos”. Pois somos assim. Nós somos os achados e os perdidos. Pois muitas vezes é apenas na sala de embarque que paramos para pensar para onde realmente temos que ir, ou melhor, de onde viemos? Qual o nosso próximo vôo? Qual o nosso destino? Qual será nossa próxima escala? Na verdade estas salas nada mais são que grandes consultórios públicos. Os psicólogos estão estacionados majestosamente através das enormes paredes de vidro. Nos espreitam com suas brancas asas estendidas, tendo no decorrer de seu longo corpo a logo da Tam, da Gol, da Varig, da Alitália, United, sei lá... Estas enormes coisas que voam nos fazem pensar em qual rumo tomar na vida. Já que estes mesmos gigantes que teimam e desafiar a lei da gravidade sempre estão decolando para algum lugar. Sempre têm uma rota a cumprirem e às vezes até têm que fazer um pouso técnico. E você? E eu? E nós dois, meu Querido Leitor? Há quanto não tempo não decolamos de nós mesmos? Há quanto tempo não vamos a lugar nenhum em nós mesmos? Há quanto tempo não mudamos nossos conceitos já tão enferrujados pelo tempo? É tempo de voarmos um pouco para além de nós mesmos. Sermos menos observadores dos outros e decolarmos para dentro de nós mesmos. Não é piegas, e nem sacanagem não. É preciso. Tecnicamente, é necessário. Não temos tanto tempo assim para o próximo vôo. E as escalas? Ah... estas, já não tem tanta importância. O que realmente importa, é sobrar o devido tempo para o último café tomado em pé ali no balcão.
Até mais ou até quem sabe o próximo encontro numa destas salas chatas de embarque, de Brasília, Rio, São Paulo, Florianópolis, Belo Horizonte, João Pessoa, Salvador, Recife, Goiânia ou esta aqui da quente Cuiabá.


Marcelina Oliveira

26/10/05//Cgb// 02:37.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ângulo Bi















O relógio de marfim marcava 02:30h. E dois corpos espaçados inertes repousavam em um lençol rosa, de linho grosso,com cheiro de gente. Gente de verdade.
O telefone toca. Otávio, sonolento e assustado se levanta. Calça os chinelos, passa a mão pelo cabelo e o atende.
_ Oi.
Uma voz em desespero responde:
_ Otávio! Preciso te ver urgente. Gladis acaba de morrer!
_ Não chamou o veterinário?
_ Não deu tempo. Foi uma parada cárdio-respiratória. Tentei reanimá-la, mais não consegui.
_ Me espere, estou indo prá aí.
Otávio com sua pressa de tudo, arrumou-se, deu um beijo em Elisa, desceu até a garagem. Entrou em sua Mercedes, e segue as trilhas da noite abafada. Brasília era insuportável em agosto. Clima quente, árido, quase desértico. Estudiosos afirmam, que a vida em Brasília nesta época do ano, só é possível por causa do lago Paranoá.
Sai de sua quadra (SQS 107), toma o eixo monumental e segue rumo ao lago sul. Enquanto atravessava a vasta ponte do Gilberto Salomão, pensava no que havia se tornado sua vida nos últimos três anos. Atravessando a cidade que não tem esquinas, chegava a conclusão de que em sua vida também não havia esquinas. Divido entre os dois, Elisa e Gramys.
Ela, a face forte, segura, contida, lasciva, poderosa. O amor seguro.
Ele, o amor fraco, dependente, promíscuo, determinado. Amor cor de rosa.
Seus pensamentos divagavam sobre as luzes de alaranjadas refletidas no lago, quando um bêbado atravessa a rua e uma freada brusca lhe acorda a alma, quase mortificada.
Ele pára e grita:
_ Bêbado filho da puta! Quer morrer veado?!!
O bêbado cai na calçada. Estira-se, e ri debilmente de Otávio.
A Mercedes preta pára no semáforo da ponte, e no rádio Renato Russo canta Somewhere. Que ironia! Um Renato que morreu. O único Renato que não renasceu, seu nome não deveria ser Renato e sim Remorto.
O sinal abriu, ele virou à esquerda e se aproximou do prédio de Gramy. Estacionou. Desceu e trancou o carro. Abriu a portaria com sua chave. Chamou o elevador. E o elevador demorava... demorava... demorava... Acendeu um cigarro de cravo, e observava o porteiro que dormia e ressonava. Olhou a fumaça, e preparava-se para amparar Gramy, que sentia por Gladys, uma Puldoll de 06 anos, a mesma afeição que sentia por todas as pessoas que mais admirava.
Gramy era uma dessas pessoas, que ao olharmos para os seus pés, implicitamente percebemos sua homossexualidade. Pés magros de unhas feitas, pés que não são de homem. Pés finos, delicados, quase de moça. Homem magro de 26 anos, pele claríssima, olhos violetas, cabelos ruivos. Fala contida, jeito espalhafatoso, trejeitos femininos e mãos alongadas.

O elevador chega. Ele repleto de sua costumeira pressa, aperta o botão do décimo sexto andar. Acende mais um cigarro. Décimo sexto. O elevador pára. Ele caminha pelo corredor imenso, enfia a chave na fechadura, encontra Gramy chorando sobre aquele cadaverzinho macio e ainda exalando o perfume do pet-shop.
Gramy levanta sua face vermelha, contempla Otávio. Em choro incontido ficam assim por alguns segundos. Otávio beija-lhe o rosto, afaga aqueles cabelos macios, e as lágrimas abundantes de Gramy umedecem a sua camisa verde–oliva, que Elisa havia lhe dado na noite anterior, pelos três anos de casamento.
Otávio naquele momento, mais que o homem, era o forte, o impassível, o amigo único, o irmão. Foi até a área de serviço, abriu o armário e pegou um saco plástico. Rasgou-o e gentilmente afastou Gramy com um respeito silencioso, tácito, humano. Embrulhou aquele pequeno corpo no plástico, abriu a porta de serviço e seguiu por aquele corredor branco, vazio. Chegou à lixeira do andar e jogou o embrulho. Enquanto virou-se, ouviu o barulho da queda seca.
Voltou ao apartamento, abriu a porta e entrou. Gramy estava na piscina. E sua taça de moët chandon borbulhava sua terna melancolia, quase amargura.
Pelos vidros fumês da sacada ampla e perfumada de incenso, Otávio buscava maneiras de se desvencilhar de um de seus dois amores. De qual deles? Missão absurda, totalmente obscura, pois um era a noite, o outro o dia. Uma era o bem, o outro o mal. Um era o paraíso e o outro o inferno. Um era a paz, o outro a guerra constante. Mas de que maneira descompensar a alma sem sair mutilado? De que maneira ser feliz só com o dia, se é a noite a cama do dia? De que maneira se conformar só com o bem, se ele se evidencia justamente porque enxergamos o mal? De que maneira se abster da guerra, se ela é o marco final da paz?
Acendeu um cigarro, abriu a porta de vidro, sentou-se ao lado da piscina. Tomou um gole do champanhe que ainda insistia em soltar suas valiosas bolhas. Sentiu cócegas na garganta e riu em seus pensamentos. Afagou os cabelos macios de Gramy e o beijou na boca. Um beijo tardio, retardatário, de paixão antiga que corre algum risco. Gramy tomado por sua melancolia, quase não respondia. Fugiu do beijo quase longo e recostou-se nos ombros seguros de Otávio. Naquele momento, o ombro lhe valia mais que um beijo. Mais que um tesão.
Eram cuidadosamente, dois homens. Dois homens apenas. Sem rótulos. Apenas amigos.
Mas o que não é gay nesta vida?
O que há de certo em ser gay? Ou de errado em não ser gay? O que há de homem dentro do homem, já que o self não tem sexo?
Otávio desvencilhando-se de Gramy, saiu da piscina lentamente. Gramy observa o corpo dourado, alto, musculoso e latente de sexo. Um corpo, que já não era seu.
_ Você já vai?
_ Já. Elisa tem vestibular amanhã cedo.
Em tom despeitado Gramy responde:
_ Elisa. Elisa. Sempre esta mulher ! Ela já não é pós-graduada em física nuclear, ciência da computação, direito, e o cacete?
_Não Gramy, ela só tem 33, e só se formou em física nuclear e direito.
Otávio pressentindo o tom do diálogo, pensou em retirar-se o mais rápido possível.
_ Até quando Otávio ? Até quando este triângulo será mantido assim? Como se não existisse a outra parte? Como se o abjeto fosse eu? Até quando você vai se dividir entre o santo e o promíscuo?
Gramy após despejar-se todo, levou a mão fortemente à cabeça como se quisesse arrancar seus caros cabelos. Como num gesto de arrependimento. Fitou a expressão assustada de Otávio, e lhe abraçou. Com medo da cobrança feita, o abraçou. Com medo da solidão, o abraçou. Com medo de si, o abraçou num ímpeto de última vez.
Como se tivesse sido flechado em seu tendão de aquiles, Otávio perdeu por alguns instantes o ar, apesar de já a algum tempo esperar por esta fatídica conversa. E no momento em que ela veio, ele não tinha respostas. Não era só o casamento, era o absoluto envolvimento de orquídea que ele tinha com Elisa. Era o companheirismo dela, os beijos roubados na rua, o fondue de queijo que ela fazia. E o sexo... Ah, o sexo... Era tudo que ele não podia explicar. Talvez fosse isto que o prendesse à Elisa. Mulher fabulosa, morena, cabelos negros, olhos verdes, pele firme, expressão forte, de quem manda com poder, sem deixar de ser terna. Dissimulada às vezes. Sua voz alta, alegre era o que mais ecoava dentro dele naqueles últimos tempos. Elisa era o amor sem problemas. Aquele o qual os padrões permitiam, sem transgressões, sem roubos de caráter. Sem vergonhas. Sem satisfações a dar.
Otávio o beijou na face e saiu sem dizer nada. Não sabia o que dizer. Não podia dizer...
Abriu a porta e saiu. Não parecia mais ser aquele garoto bonito de Brasília de apenas 27 anos, filho de diplomata, ex – aluno do Marista, formado em medicina pela Unb. Sua expressão caída, o fazia parecer um carrasco esperando uma ordem para executar alguém.
Em sua saída, novamente o corredor vazio, enorme, branco, com azeite derramado em toda a sua extensão. Novamente o elevador demorado, o guarda dormindo, a ponte de volta, seus pensamentos... Novamente Renato Russo. Novamente Somewhere.
Já se passavam das 04:00,quando entrou em seu apartamento. Elisa o esperava compassiva como sempre. Abraçou-o e se amaram de uma maneira diferente, como se não houvesse vizinhos nem gente dormindo... Como se simplesmente o mundo inteiro pudesse ser deixado para amanhã. Como se a vida pudesse ser vista sob o perfeito ângulo de um vôo panorâmico.

Marcelina Oliveira

Sinop / Verão de 2003

terça-feira, 8 de julho de 2008

Nossos Legados









Todos nós devemos permanecer algum tempo, algumas horas em nosso Eldorado pessoal. Não importa o que ele seja e onde ele esteja. O encontrávamos muito facilmente quando tínhamos 15 anos e deixávamos nossos cabelos voarem em nossos passeios de bicicleta, lembra? Naquele tempo praticamente morávamos nele todos os dias. Em vez de sairmos da rotina para ele, nós acordávamos nele todas as manhãs. E dele partíamos para o nosso mundo. Lembra como o mundo era leve e bom? Como era bom pensar que tudo estaria a nosso favor para sempre... Passou o tempo. O sistema nos engoliu, mas que bom que ao menos alguns de nós, ainda que de vez em quando, fugimos do sistema aprisionador e buscamos permanecer ao menos um pouco neste Eldorado pessoal. Vejo isso claramente em meu sobrinho Luca de 4 anos, em mim mesma em meus bem vividos 36, e em minha mãe, com seu reluzente e reconhecido sucesso pessoal e profissional aos seus implacáveis 63 anos. Não é preciso ser Phd em nada para saber que talvez seja esta permanência no Eldorado que nos faça ser menos animais e mais humanos. Acredito que deva estar aí o Star Bright de cada um de nós, e que seja isso o que nos faz enxergar o mundo com nossos cegos olhos, sem tanto julgar o próximo ou captar deles apenas suas tragédias pessoais. E você? Há quanto tempo você não dá uma passada em seu Eldorado? Há quanto tempo você não anda na rua de chinelos, não fala um palavrão, não come um algodão doce? Há quanto tempo você não alimenta o seu sonho? Não importa o valor dele... Não importa se você queira comprar um Tourareg ou trocar a sua bicicleta. Esteja mais com você e menos no trabalho. Viaje mais. Minta sem medo a sua idade. Ajude mais. Fale menos. Passeie com seus cachorros. Use menos o celular. Cumprimente o estranho desdentado da rua. Gargalhe mais com seus irmãos, eles são seus exatos pedaços em forma de gente, pois quem perde um irmão, perde para sempre um pedaço do corpo e fica incompleto pelo resto de seus dias. Evite velórios. Arrisque-se mais. Não tenha vergonha de errar ao tentar acertar. Seja menos perfeccionista. Peça mais desculpas e seja sincero quando as pedir. Construa uma capelinha para nossa Senhora em uma estrada deserta. Agrade menos os aduladores. Desconfie impiedosamente de quem promete muito. Escreva sua melhor frase e cole na cabeceira de sua cama, e leia-a todas as manhãs. Coma o nhoque do Italiano, mais vezes. Abra aquele vinho que você guarda para os 15 anos de sua filha, que tem apenas 9 agora... Pare de enrolar: Case com sua namorada se você a ama de verdade. Mergulhe de cabeça em projetos, que poucos acreditam. Gaste menos, poupe mais, pois por mais dinheiro que você tenha hoje, mingúem jamais saberá o que pode acontecer no dia de amanhã. Compre sua moto de 900 cilindradas e faça uma viagem longa com ela, mesmo que sua mulher seja contra. Dê um aumento para seus empregados. Compre o casaco que você sempre quis, mesmo morando neste calor. Julgue menos as mulheres separadas, afinal você não dormia com elas e nem lhes pagava as contas. Fale mais de você, menos dos outros. Escute mais. Compartilhe mais. Vá mais ao parque florestal e abrace uma árvore. Jogue mais pães para as tartarugas ou se preferir passeie à beira do lago ou caminhe nas trilhas, e sinta o perfume verde e inocente que vem da floresta fechada. Ria dos macaquinhos nas árvores. Ande mais de lancha e menos de carro. Tome sorvete ao meio dia de um sábado, com seu filho de 9 anos, após um passeio de bicicleta. Dê uma nota de R$ 20,00 a sua sobrinha para ela comprar um gloss de morango. Guarde sempre uma nota de US 1,00 na carteira. Escute mais Stevie Wonder e veja com quais cores ele enxerga o mundo, o qual você não enxerga, afinal ele tem mais grana que você que enxerga. Porque será?
Seja menos exigente e mais tolerante. Seja menos preconceituoso. Respeite o trânsito, afinal muitas pessoas não lerão esta crônica, porque morreram no trânsito. Elogie mais. Desconfie sempre dos moralistas, eles sempre querem fazer exatamente o que você fez, e não têm coragem de fazer. Não tenha inveja de quem é melhor do que você, ele fez por merecer. Vá mais ao cinema. Carregue menos bagagem ao viajar. Seja mais cortês. Pratique rafting. Aprenda a falar fluentemente inglês, francês ou mandarin. Seja mais simpático. O mundo rejeita gente chata! Cuide-se mais. Ame-se! Não fuja dos abraços reparadores. E lembre-se sempre: quantas pessoas iriam ao seu enterro se você partisse hoje? Escute mais boas músicas e menos enlatados americanos. Leia mais contos da Clarice Lispector, poemas do Drumond. Assista mais filmes brasileiros e menos faustão. Fotografe mais, assim você pode ver sua aura e se lembrar de seus Eldorados. Adote um cachorro perdido da rua, um dia ele pode ser seu melhor amigo. Cuide bem de seus pais e de seus irmãos por mais difíceis que eles sejam, se um dia seu mundo cair, serão eles quem você irá procurar primeiro. Almoce mais na casa de sua mãe, não se esqueça que só ela faz a melhor comida do mundo. Penteie cuidadosamente mais vezes os cabelos de sua filha. Aprenda a fazer arroz com muito alho. Coma mais pimenta. Admire mais os Sagitarianos, (o mundo deve muito a eles). Seja muito justo em seu testamento, não se esqueça de ninguém que você amou, ou alguém que de alguma maneira te serviu com fidelidade. Admire um lavrador suado e sujo trabalhando no campo, se não fosse ele você não teria comido nada hoje. Beije mais quem você ama. (Há quanto tempo você não beija apaixonadamente?) Torne-se um apaixonado por tudo, mesmo pagando um alto preço por isso. Tenha coragem para mudar tudo, quando for preciso. Tome mais cerveja com seus verdadeiros amigos, pois numa vida inteira, eles dificilmente chegarão a mais de 6 no total. Tome mais coquinho na Cachaçaria. Assista uma apresentação da Esquadrilha da Fumaça e leve seu filho, e explique a ele ao seu modo, cada formação da esquadrilha. Seja mais seletivo, porém mais feliz. Diga mais a palavra “obrigada”. Sorria mais. Ah! E se puder, escreva um livro! Não tenha medo de dizer não. Ensine sem traumas, seus filhos à dizerem “não” quando precisarem. Meu pai me ensinou isso e nunca errei ao dizer “não”. Seja simples sempre, pois a elegância é nata e mora na simplicidade, ou você nunca viu um cisne branco? Não deixe nenhum grande amigo seu sem bolo no aniversário dele, isso trás azar para vocês dois. Tenha um verdadeiro amigo Santiago, a quem você possa sempre ligar sem receios, às 4 da madrugada se precisar. Pule de pára-quedas ao menos uma vez na vida. Plante árvores floridas. Leia a Montanha Mágica (de Tomas Man). Voe sempre que puder na Tam, ela tem a melhor, a mais seleta, a mais completa seleção musical da aviação mundial. Escreva poemas para seu amor e o presenteie com eles. Diga que ama as pessoas enquanto elas estão vivas, pois os mortos não escutam. Encomende seu mapa astral. Leia a Biografia de seu ídolo. Olhe ao seu lado, tenho certeza que seu Eldorado mora ao lado. Por mais que nos tornemos céticos, nossos sonhos nunca nos abandonam totalmente. Ficam sempre por perto nos rondando, nos espreitando, esperando uma “recaída” nossa para se apossarem de nossas almas novamente e nos levarem de volta para casa. Acredite de verdade em seus sonhos. Leia O Segredo. Seja menos esnobe, as melhores coisas da vida estão na simplicidade do espírito, ou você nunca contemplou a beleza simplória e ética de um monge Franciscano? Não olhe tanto pra trás. Siga sempre em frente. Não tenha medo do espelho, com o passar do tempo ele será seu amigo mais sincero e próximo. Use mais Havaianas. Coma mais peixes e menos carne vermelha. Faça análise com a Lia ao menos uma vez na vida. Busque o sucesso sempre, mas não pise nos outros, pois a lei da Compensação Universal, um dia pesará sobre você, seja você quem for. Sobrevoe Copacabana ao menos uma vez na vida, e se for à noite, lhe asseguro que você nunca mais se esquecerá da belíssima formação das luzes em forma de “C“. Coma romã no último dia do ano. Jamais perca qualquer oportunidade de ver uma queima de fogos, só assim, você fotografará a sua alma. Seja feliz. Seja feliz hoje. Tenha coragem de ser feliz hoje. Apenas hoje. Filtre mais os conselhos, ninguém sabe tudo. Seja feliz. Seja muito feliz sempre. E não se esqueça que a felicidade sempre estará nos pequenos detalhes, e você não precisa chegar aos 80 para perceber isso; não os deixe fugir, você pode. Se você não acredita, eu digo: eu acredito em você. Siga sempre em frente e não pare jamais. Mas se precisar, finja-se de surdo, cego e mudo, por uma boa causa, sempre valerá uma inocente mentira.



Marcelina Oliveira


Sinop/ 03/08/08