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domingo, 21 de março de 2010

Duas Chuvas


A evasão implícita dos ângulos firmes, me prendem em duas jaulas sem asas:
Uma : corpo.
Outra: Chuva


O corpo cai rijo, pesado em solo seco. Explodindo em sangue, músculos, vísceras, ossos vermelhos.

A chuva, suave se espalha e se esvai em perfeitos caminhos de vida certa e plena... Cavando espaços, devorando esferas. Engravidando gentes de água...
A chuva tácita, mole, fria, sedutora, barulhenta, enxerga o rumor do mundo sem doer.


O corpo já apodrecido pelo tempo, marca a terra dura e estéril de tristeza, peso e dor.

sou tempestade trovoante em pensamentos...
Não sou mais corpo, tornei-me água, me abluí,
chovi ...


(Marcelina)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Capris

Seres bons, se maus, terríveis são.
Seres não alados, chifrados em si, são sãos.
Seres malvados, de corações grandes e alados,
Seres indomáveis, sem rumo, seres do mundo.

Capris, são ilhas inteligentes em terras firmes e inexistentes.
São hominídeos grandes, viventes em mundos ausentes.

Marcelina Oliveira

segunda-feira, 1 de março de 2010

Amor,


Um eu de mim, existe sem você
outro , te ama com paradas.
Um eu de mim, não te sabes quem és,
outro, te quer sempre, inteiro ... livre.
Eu sem você ando
e com você navego, num mar menos meu do que nosso
Eu em ti, por você em mim,
arrumados,
vamos.


(Marcelina)




Ai de mim, pobre crucifixo anônimo;
Ai de mim criatura que busca ser
o avesso, a água.

E pelo vento implícito, voltar ao pó difícil e lúcido,
de ser gente...


(Marcelina)
MULHERES CLAUDINAS
(Cláudia-MT, Outubro de 2009)




Ai de ti, Cláudia, sem tuas estátuas meninas,
Sem tuas figuras de mulheres perdidas.

Tão altas delgadas vivas monumentais...
Tão lindas, postas e plantadas.
Fulguradas, reluzentes, se, contra teus corpos, o sol se põe.

Fantasma de cristal, se a lua cheia brota de um de teus seios, encantando Iaras.

Espectros lindos...
Mulheres verdes...

Seus corpos esculpidamente retos se retorcem em cabelos cheios e redondos.

E seus rostos...
Seus rostos são invejáveis figuras de todas as mulheres, de todos os tempos.

Deixa seus esvoaçados cabelos verdes se ouriçarem contra o vento, eles sempre serão teus...

Tua longa vida deixa, a tua volta, sementes duras e ternas, iguais as minhas.
Tuas vidas, bela Rainha, são bolas marrons de um peso só.

Feliz de mim, se em minha velhice, meu semblante opaco e cinza, possuir teu pleno vigor senil,
montado em teu cheiro de mata fresca, que tudo vê, tudo engole e tudo cala.

Que se cale em pânico, mata inteira,
para se ouvir falar: a Majestade Castanheira.


(Marcelina)
Lua



Lua de caixa branca
Lua livre, voada, branca
Em mim desde criança.

Caleidoscópio dos que lá me esperam.

Esta lua é minha desde o tempo escuro e pequeno,
Lua que de tão grande me ilumina de descomplicada poesia.

É lunática,
É lua e Letra.
É elo de linguagem branca.
Lua Crescente


Lua prata que de tão grande
nem mais branca é.
Perdeu a cor de medo, pensando em que sua luz me ofusca.
Sob meu pensamento morto, pensado, cansado,
ainda não se sabe se é noite ou dia.

Esse pôr de lua estático
por si me basta, me toca, me leva, me basta, me arranca, me acampa, me envolve.
Sou toda lua. Te olho me vejo.

Lua enorme, dominada em céu cinza reluzente.
Dona.
Toda.
Teu teto é o que me basta, me toma, me bebe, me devora.

Lua mãe, Lua nova, lua eterna, lua imensa.
O meu beber um dia será tua sombra.

(Marcelina)
Mata,


mata, morta mata
mata comprida mata
mata que sara, que dança, que para a dança insana e doída


mata, mata de cabelo verde, de cheiro são, de chuva pesada
mata que me mata tarde, que me orquideia inteira ... por inteira mata
mata de verde, de verde vivo, de vento livre, vento escuro, pesado vento, que derruba, arruma, apruma mata

deita, enterra os pequenos podres

mata que me rodeia inteira, me respira, me leva, me tange, me deita de clorofila cinza arrumado sobre água parada, de um mim reduzido, inquieto e deitado

morto.