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domingo, 16 de agosto de 2009

Hoje foi um dia bonito, azul e ensolarado.
Ouvi só músicas lindas... Um misto saudável de Raul, Elton John, Cássia Eller, Ana Carolina, Legião...etc... etc...
Mas meu dia musical se completou quando ouvi o cara,,,
Ele é o melhor do Brasil e do Mundo... Ouvi a voz precisa e essencial do meu querido ANTONIO VILLEROY.
Tomei sol ouvindo Antonio cantar... Que sensação única.
Que bom poder nos transportar para outras dimensões através da música.
Meu domingo foi bom, dourado como a melhor cerveja, e sarado feito a melhor lua.

segunda-feira, 13 de abril de 2009





Hoje me olho por dentro com olhos ávidos de coelho, e me vejo do modo que tanto queria ser... Queria ser eu mesma, andar pelos meus próprios caminhos mesmo que me doessem os pés. Queria não ter sido tão protegida, nem ter protegido tanto. A proteção impede as pessoas de serem boas o suficiente para gritarem mais alto mesmo falando baixo. Queria apenas fazer as minhas coisas precisas, simples e boas. Não nasci para estar num aquário. O aquário me sufoca e me enjoa o estômago retorcido e amargo.
Nasci para falar muito, pensar muito, escrever o necessário. Não nasci para um mundo quadrado. Nasci para ser fogo, para acertar as flechadas no meio do alvo sem hesitar. Meu caminho não é este, eu sei disso pois li em meu mapa anos atrás. O mundo tem cordas, mas são curtas. Eu preciso de um meio melhor para achar as palavras exatas que menos doam em minha alma hermética e vermelha. Queria saber pensar, teorizar o que os mestres ainda não entendem. Eu faço o traço inteiro na folha branca de papel de seda, mas às vezes o traço preciso de mais, rasga o papel e desampara o mundo inteiro. Eu sempre me descolo do mundo. O mundo sempre cospe nas pegadas.
Bobagem dos bobos... O que é sempre o melhor, já nasce pronto. Ninguém melhora o bom, ninguém constrói o exato que é o certo bom. Os ruins se teorizam, justamente porque nunca se acham nos dicionários das nuvens. Eu entro em estado de graça e o ruim sai pronto de mim, justamente por que não aprendi a ser boa o suficiente. Ninguém ensina nada a ninguém. As caixas, já nos chegam prontas e lacradas, basta procurar o livro certo. O livro certo. O livro certo. Tenho pavor dos livros certos... Eles são monstros assustadores que povoam nossas vidraças em noites escuras para nos roubar nossos melhores sonhos. São vampiros altos e brancos que sempre vagam velados pela bruma no limiar da vida e da morte. Eles nos pegam e nos levam sempre... Nos tiram de nosso círculo e nos deixam nus nas ruas desertas e apagadas.
Às vezes. Quero voltar para casa. Quero estar em mim ao menos mais uma vez. Mas é missão abortada, porque eu já passei. Desde ontem eu passei e o mundo não viu.



Marcelina Oliveira
13/04/2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

Meus Passeios








Existem manhãs que nos chegam leves e brancas, apenas para estarmos e ficarmos a sós com nós mesmos. Abraçando-nos, cheirando-nos. Amamentando-nos. Manhãs em que o dia de ferro pode ficar lá fora ao menos por um tempo nos espreitando. Ao menos por uma manhã.
Nestas manhãs, nos é permitido sem culpas acordar mais cedo, não tirar o pijama nem descalçar as pantufas quentinhas. Não escovar os dentes e ir apressadamente ver a plantação de cebolinha e salsinha e a bagunça esburacada que os 2 boxers fizeram no jardim antes florido e gramado.
Esqueça! Hoje é tempo de reconstruir. De ficar em casa olhando para as paredes sujas e limpá-las com ácido. De tirar móveis do lugar para limpar as sujeiras mais antigas, rasgar as traças ao meio. Hoje pela manhã, é tempo de se trancar na biblioteca e passear pelo mundo e pelo tempo na companhia dos meus queridos. Que bom me afundar na poltrona fofinha e viajar com Tomas até Davos para jantar salmão defumando ao molho rosé com nossos amigos. E a sobremesa? Ah! A sobremesa... teremos as melhores madeleines e charlotes de chocolate do mundo... (Sofisticações literárias permitidas apenas em Davos...)
Me permitir sentir o cheiro de leite fervido morninho e de súbito minha querida infância se fez presente... Um cheiro tão delicioso de minha infância que me fez caminhar de mãos dadas com meu querido Lobato e ir até a gruta da Cuca. Pela primeira vez, ela não me assustou... Mais tarde ainda, fui ao encontro marcado com Sabino. . . O abracei com tanta saudade que até fiquei sem ar. Ele sorriu para mim e meu deu uma caneta de turquesa azul, me pedindo que jamais eu deixasse de escrever minhas memórias coloridas em forma de letras.
Já em Itabira, lá perto das montanhas de ferro vi Carlos sentado em cima de uma grande pedra. A pedra, não estava mais no meio do nosso caminho. Ele havia encontrado para ela utilidade melhor. Sentou e ficou, olhando o mar de Copacabana que Itabira nunca terá. Que delícia receber a brisa no rosto passeando com Simone por Montmartre. Ela estava tão brancamente bela aquela manhã, que tive a impressão que Paris não mais poderia ser Paris sem ela ter existido por lá, naquela rua, naquele café naquela manhã. Nos sentamos no café preferido deles dois. Quando olho por sobre meu ombro esquerdo me vejo através das grossa lentes de Sartre. Ele acenou, sorriu e sumiu andando em meio às brumas com seu pesado sobretudo de veludo marrom. O cigarro sinalizava calado, na mão esquerda e esfumaçava ao longe... Pude ainda sentir seu cheiro de café amargo que ele havia pedido, e deixado sobre a mesa. Sartre, esvaiu-se na própria fumaça.
Como sentir-se viva mesmo que dentre os mortos? Jamais devemos abandonar nossos melhores mortos. Pois é através deles que nos sentimos vivos. E é tão bom viver... Sentir-se abluída, imersa das águas boas da vida. É tão bom entrar pelas florestas... Caminhar, conversar... E neste caminho de folhas coloridas e secas de inverno que encontrei Lawrence na cabana fazendo Chatterley dormir. Ele a acariciava tal como um pai. Suas mãos grossas e pesadas, acariciavam aquela pele rosa e os cabelos esverdeados e belos. Ele sim, era seu pai de verdade. Criador e criatura.
E a manhã era interminável e deliciosa. Quantos passeios, devaneios, tantas divagações necessárias...
O sol saia tão suavemente, o vento continuava a nos tocar. O jardim agora já quase reconstruído cheirava a manjericão, salsa, cebolinha, alecrim, rosas vermelhas.
E olhando as belas rosas vermelhas vi Eça entregando um ramalhete delas à sua querida Luíza. Ela surpreende-se e sorri desconfiadamente, mas depois entende que ele apenas queria que ela nunca mais escrevesse carta alguma a ninguém. Não devemos documentar muitas coisas da alma, elas podem ser usadas contra nós quando menos esperarmos. Mais adiante os dois caminham pela grama e ainda vi o vestido de seda bege de Luiza, farfalhando ao vento e sumindo na chuva fina que começava a cair na manhã de outono...
Caminhei sozinha por uma estrada velha e bem ao longe vi umas ruínas que pareciam ser de um castelo muito antigo. Andei mais rapidamente e o frio me cortava o rosto. Cheguei ao portal de entrada e o silêncio era total. Abri o portão que rangeu, e contemplei os gigantes ipês amarelo, roxo e vermelho. A porta gigantesca estava aberta. E vi que Oscar estava sentado num majestoso trono. Ele fumava um cachimbo de tronco de roseira vermelha. E o cheiro perfumado de chocolate me invadia inteira. Ele levantou-se e fez um movimento com o braço esquerdo para o alto. Acompanhei o lento movimento e pude contemplar o grande retrato. Pude perceber nitidamente o azul dos olhos de Dorian. A beleza estupenda me fez estremecer. Pois eu já sabia de quase todas as maldições. É este o terror de envelhecermos... Não mais podemos fugir de nos mesmos.
Já na saída do castelo vi algo horrendo... Uma coisa horrível, magra, ossuda que esquivava por entre as árvores, que Clarice insistia em chamar de Macabéa. Tadinha a feiúra dela doeu em mim tão fortemente que por alguns segundos eu quis parar de existir... Clarice estava muda e esquisita como sempre, porém, absolutamente essencial a mim, ao mundo. O mundo jamais teria sido explicado se Clarice não o tivesse escrito e reescrito tantas vezes. Ela cruzou o caminho com um enorme cigarro de menta na mão direita e vi seus olhos arregalados, delineados de negro. Os olhos dela, a faziam única. Apenas olhos dela, me explicam sempre. Os olhos de Clarice me ensinaram a nova linguagem, que poucos souberam captar.
Mas a viagem vaga está quase terminando. Já não era mais uma manhã fria e sim uma tarde gelada, sem sol, já quase entorpecida pela noite. Cecília chegou de repente em seu vestido branco de bolinhas pretas, com babados de renda preta, saia rodada, e decote discreto. Estava de salto altíssimo como sempre, e os cabelos arrumados fio a fio como se fosse uma boneca. Seus olhos roubados do mar verde eram os mais tristes que já vi em minha vida. Os olhos de Cecília eram os mesmos olhos que assistiam aos velórios. Eram olhos molhados, vermelhos, distantes, ausentes. Ela em passos longos e lentos, andou em direção a mim e estendeu-me uma rosa branca e triste. Peguei a rosa aveludada e dura e a cheirei. O perfume que exalava dela me fez lembrar dos barquinhos, das estrelas, das velas, das fogueiras em noites frias. Cecília tão triste me deixou e foi-se. Jamais esquecerei dos olhos tristes de Cecília. Cecília é triste porque escreve poesia, pois as melhores poesias, são as poesias de quem sofre e de que por algum momento pôde entrar no portal de todas as ilusões. E só no portal de todas as ilusões que podemos nos deparar com a essência de todas as coisas e de todos os sentimentos. Lá nos bastamos com o que realmente importa; e Cecília, sempre morou neste portal. Lá era a casa dela.
Já era noite caída, escura e sem o azul da lua. Voltava apressada para casa quando um tango suave e bem marcado, quente e sedutor me atraiu para uma casa colorida e enorme, repleta de pessoas. Uma imagem me chamou atenção. Um homem velho e lindo, muito bem trajado em um finíssimo terno de linho branco. Estava sentado numa cadeira de balanço na varanda enorme e verde. Ele estava na sua festa de 100 anos. Ele era o meu amor. Ele era Gabriel. Quando me viu se levantou, disse que estava me esperando e que havia demorado muito para chegar. Pegou-me pela mão e me levou ao centro do salão. Dançamos tango como dois amantes... Todos nos aplaudiram e nos admiraram. Rimos tanto... Me senti tão amada... Mas eu sabia... Sabia que jamais estaria nas memórias de suas putas tristes. Gabriel amava só uma delas. E morreria amando-a. Esperando-a. Gabriel beijou-me a mão e se despediu na distância correta e secreta dos livros.
Já era hora de ir. E tive que ir. Fui mais vivida, mais digna de mim mesma.
Fui para a minha verdadeira vida. A vida real que vive do lado de fora de todas as bibliotecas. A vida que vive do lado de fora de todos os portões de aço. Fui para a vida que nos deixa endurecidos, burros, estranhos desconhecidos de nos mesmos. Que nos transforma todos os dias em vãs criaturas.



Marcelina
Ops- 01-06-2008